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Congadas de Minas: um bem cultural que reúne fé e resistência




O Congado ou Reinado é uma prática religiosa de formação afro-brasileira marcada pelas tradições históricas e míticas em devoção à Nossa Senhora do Rosário. A história do Congado ou Reinado no Brasil nos remete aos tempos do Brasil Colônia e escravocrata e se constituiu na relação entre elementos da religião africana com elementos portugueses difundidos no país.


Os grupos se apresentam em um cortejo real, que inclui danças, cantos e performances em celebrações religiosas. As festas em louvor e homenagem às santas e santos, congregam diferentes grupos, que são chamados de guardas, ternos ou bandas. Eles se diferenciam uns dos outros pelo toque da caixa (tambor), pelos instrumentos musicais, forma de dançar, cantigas que entoam, vestimentas que usam e pelas funções rituais que desempenham. Dessa maneira, são variados as denominações: guardas de congo, catopé, caboclinho, vilão, marujada, moçambique, além do candombe, considerada a guarda mais antiga, mas que não sai em cortejo pelas ruas das cidades como as demais.


O que é mais interessante é compreender como esses grupos foram originados no passado, como irmandades, organizações sociais fundamentais para reunião e reconhecimento entre iguais. Apesar das muitas diferenças de origem e estatuto jurídico, os membros das irmandades do rosário se uniam para formar uma comunidade.A consciên cia de ser negro permitia aos grupos afirmarem-se coletivamente na sociedade dominante.

Igualmente importante é a prática da devoção a Nossa Senhora do Rosário nas celebrações em dias de festas realizadas em espaços públicos, o que permitia a continuação das identidades étnicas em rituais, afirmando ao mesmo tempo a sua unidade como negros e abrindo espaço para uma memória coletiva que ligava os herdeiros da tradição com uma pátria Africana. Isso demonstra que, para os membros das irmandades do rosário em Minas Gerais, o movimento de etnia não foi uma cadeia ininterrupta, mas sim um complexo processo de (re)identificação que sinalizava uma aceitação da nova sociedade ao promover simultaneamente vínculos entre o antigo mundo e o catolicismo.


A presença das guardas pode variar de caso a caso, o que faz com que o Rosário de Maria contemple inúmeras variações festivas. Segundo Cida Reis e Júnia Torres (2006):

através da tradição oral, os devotos de Nossa Senhora do Rosário vivenciam e retransmitem sua visão de mundo, utilizando elementos religiosos, linguísticos, artísticos e étnicos, onde se destaca a musicalidade performada pela dança, para formular e reafirmar um modo de vida e um modo de ser particular

Embora presente em diversos Estados, Minas Gerais se destaca como um território de extensa amplitude de ocorrência dessa manifestação cultural, sendo, portanto, onde corre o processo de registro das ‘Congadas de Minas’ como Bem Cultural Brasileiro de Natureza Imaterial.


A respeito dessas manifestações religiosas existe uma ampla produção acadêmica que as analisa como cultural sob diversos ângulos: antropologia, etnomusicologia, história, ciência da religião e educação. Deixamos registrados aqui uma pequena lista de sugestão sobre este bem cultural que parece estar finalmente chegando ao final do processo de instrução para ser registrado como Patrimônio Imaterial do Brasil:


Escravos e libertos nas Irmandades do Rosário: devoção e solidariedade em Minas Gerais, século XVIII e XIX.

Autoria Célia Maia Borges

Editora UFJF.


Os sons do Rosário. O Congado mineiro dos Arturos e Jatobá.

 Autoria: Glaura Lucas

Editora UFMG


Afrografias da Memória: o reinado do Rosário no Jatobá.

Autoria: Leda Maria Martins

Editora: Mazza Edições


Dica bônus: Assista o filme A Rainha Nzinga Chegou para conferir uma produção sensível sobre o universo do Reinado em Belo Horizonte.


 
 
 

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